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Campanha solidária usa transferência via aplicativo em doações

Red. em Jornalismo Impresso - 11h


A ONG Viva Rio testa entrega de auxílios de alimentação a moradores via aplicativo de cashback. A campanha SOS Favela tem o propósito de ajudar pessoas em comunidades que não têm acesso à renda durante a quarentena. Contudo, o modelo de cashback não se disseminará em locais digitalmente atrasados até que haja uma infraestrutura adequada à população, afirma Nayara Albrecht, ex- Coordenadora Geral na Secretaria de Direitos Autorais e Propriedade Intelectual do Ministério da Cidadania.


A experiência piloto a ONG, atuante no combate à desigualdade no estado do Rio de Janeiro desde 1993, passou a implementar distribuição de dinheiro a pessoas carentes via aplicativos de cashback. A meta do SOS Favela é alcançar até 5 mil pessoas com o auxílio de 55 reais pelo aplicativo de cashback da AME Digital, que dá um retorno de 20% do valor doado. Eles começaram a implementar inicialmente em comunidades de Niterói, São Gonçalo e Pendotiba, alcançando 200 pessoas.


A ideia surgiu de uma parceria com a AME Digital, quando Fabiano Gonçalves, vice-presidente de uma iniciativa da ONG, era secretário de Administração de Niterói. Fabiano afirma que, ainda assim, a falta de conhecimento sobre os modelos de cashback e a utilização deles é um impeditivo para que eles se espalhem com facilidade.


- Eu ainda estava em Niterói. E a gente distribuía cestas básicas à população. Daí surgiu uma parceria com a Elo para distribuir cartões já com o dinheiro dentro e as pessoas comprariam o que mais precisasse. Logo depois, chegou uma galera da AME querendo contribuir também. Mas aí eu saí do cargo de secretário e fui para o Pérolas Negras. Acabei levando essa ideia para lá, assim que começou a pandemia - disse Fabiano.





Rubem Cesar Fernandes, diretor e criador da ONG Viva Rio, comenta que a campanha SOS Favela, promovida pela ONG, começou com distribuição de alimentos, mas o grupo percebeu a necessidade de reformular o esquema, porque a logística estava ficando muito custosa. Até o meio de maio, eles atuaram em mais de 370 favelas só no Estado do Rio de Janeiro e entregaram mais de 34 mil cestas básicas.


- O desafio é alfabetizar digitalmente, pra não crescer o abismo social e de acesso às informações. Os aplicativos de cashback exigem algumas coisas que dificultam essas questões, tipo exigir e-mail. As pessoas não tem email e elas não podem se cadastrar. Isso mostra nosso esforço de teste. Queremos mudar as regras da AME pra se aproximar mais às questões culturais das pessoas - revelou o fundador da ONG.


Segundo o relatório do final do ano passado sobre desigualdade feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o Brasil é o sétimo país mais desigual do mundo. Esses níveis de desigualdade são refletidos não só no fator econômico, mas, também, no acesso à estruturas, a tecnologias e à informação. Para Albrecht, a falta de familiaridade das camadas mais pobres com a tecnologia dificulta uma expansão homogênea e rápida do comércio via aplicativo e dos cashbacks.


- A desigualdade digital se relaciona com a desigualdade social, com discrepância. A desigualdade de renda impede que as pessoas consigam as ferramentas digitais, porque isso implica alguns custos. Ainda que os aplicativos sejam gratuitos, o computador e a banda larga não são. Atualmente, parte das relações acontecem no mundo virtual e também parte da vida cultural ocorre lá - elucidou a ex-secretária.



Luis Fernando Prado, advogado especialista em Direito Digital e Proteção de Dados, ressalta que a democratização digital tem importância vital. Segundo ele, a crise da pandemia mostra a essencialidade do mundo online para nossa sociedade atual. E, com pessoas sem acesso a esse universo, a tecnologia passa a ser um elemento potencializador de desigualdades.


- Vale lembrar que produtos essenciais ao sustento, que são a prioridade máxima da população de baixa renda, ainda são adquiridos quase que exclusivamente no âmbito offline, para o qual o cashback não interessa tanto. Cada funcionalidade, benefício, serviço ou direito que somente é aplicável a uma parcela mais favorecida acaba contribuindo para o aumento da desigualdade e da exclusão - salientou o especialista.


A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) de 2018, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede.


Por Gustavo Magalhães


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